sexta-feira, 7 de março de 2014

BELLE EPOQUE E A ARTE NA ACADEMIA BRASILEIRA, TRAZIDA PELOS EUROPEUS. PEQUENA ABORDAGEM AO COLÉGIO HISTÓRICO PAES DE CARVALHO.

I-CONTEXTO DO OBJETO:



Aspecto de Liceu Paraense, onde funcionou a biblioteca pública e o Museu Paraense, foto de F. A. Fidanza, publicado no Álbum do Pará em 1899, Op. cit, p. 51, coleção de Luis. C. B Crispino.

Na virada do século XIX, a família real de Portugal, Dom João VI e toda a corte vem para o Brasil e se instalam no Rio de Janeiro, dando início a uma série de mudanças estruturais na cidade. E com isso a urbanização e o planejamento das cidades foram implantados na então colônia, para melhor atender a corte real. Esse fato marcou o início das transformações inovadoras na sociedade do Brasil Colônia, que mudara de nome, passando a ser considerado Reino Unido a Portugal e Algarve.
A arquitetura se ramificou em várias direções. A tradição neoclássica continuava a dominar prédios públicos, bancos, bibliotecas, instituições educacionais e prefeituras. Os arquitetos usavam do estilo Beaux- Art (estilo originado na escola de Belas Artes de Paris). O estilo greco-romano dessa arte era, nas metrópoles, os adornos e arcos. Também se investia na construção de pontes, fábricas e armazéns.
Na metade do mesmo século (XIX) torna-se mais acirrado o processo de embelezamento das cidades brasileiras, tentado, principalmente, imitar as cidades européias, principalmente a cidade de Paris, referência de como viver em sociedade (modos, costumes, vestimentas, cultura, arquitetura, etc...) dessa época. E é nesse contexto histórico de urbanização das cidades que Belém irá se inserir e se tornar a “Paris dos trópicos”.
Ao falarmos de Belle Époque (de 1870 a 1910 na Amazônia) logo nos remetemos à enorme modernização que Belém, localizada no Estado do Pará, teve graças ao crescimento da economia da borracha, a qual era a principal exportadora do país. Através desse crescimento econômico houve um desenvolvimento estrutural e crescimento populacional significativo em Belém, surgindo assim, a chamada Belle Époque de Belém.
Com esse crescimento houve também a necessidade de regularizar o ensino em Belém, pois, o presidente da província do Grão Pará na época, Bernardo de Souza Franco, condenava as condições de abandono em que se encontrava o ensino secundário na região, criando assim o “Liceu Paraense” (atual colégio estadual Paes de Carvalho).  
Fundado pelo presidente da província do Pará, Bernardo de Sousa Franco a mando de Dom Pedro II nos moldes de um colégio igual existente no Rio de Janeiro, no dia 28 de julho de 1841, o colégio “Paes de Carvalho” (localizado no bairro do Comércio em frente à Praça Maria de Jesus, nº 10) era chamado de Liceu Paraense. 
Durante a República, seu nome passou a ser “Paes de Carvalho”, sendo, depois da revolução de 1930, substituído por “Ginásio Paraense”. Mais tarde transformou-se em colégio estadual, em cumprimento à lei federal que transformou os ginásios em colégios, no que retomou o nome do período republicano.
A Rigidez nas regras é uma das características do “Paes de Carvalho”, como também é tradicional o uniforme e a escadaria. A escada do lado esquerdo é usada pelas meninas, a do lado direito pelos meninos (apesar de estudarem mistamente) e a escada central pelos professores e funcionários. Quanto ao uniforme, meninos e meninas usam meias brancas e calças/saias azuis. A camisa é sempre, obrigatoriamente, por dentro da calça ou da saia.

“Lembro que naquele tempo era moda sair de chapéu nas ruas, feitos todos de lona e inclusive no colégio se usava, com calçados fechados, meias e uniforme.”
(Professora Riza Bandeira, entrevistada pela emissora RBA, no período em que se estudava na belle époque.)
II-RELAÇÕES E ARTICULAÇÕES:



Para entender melhor o tipo de arquitetura vigente na Belle Époque, teremos que levar em conta que nesse período eram vigentes cinco tipos de arte no Brasil: o Neoclássico, o Eclético, o Art Noveau, o Romântico e o Realista.
No caso do atual colégio estadual Paes de Carvalho, pode-se observar que a estrutura arquitetônica do prédio é essencialmente neoclássica, pois logo em sua fachada pode-se visualizar o frontão, um pequeno pórtico colunado (colunas nos moldes clássicos), cores em tons de branco e cores suaves como o azul-pastel em suas portas, além de possuir uma arquitetura tipicamente simétrica e decorações internas que remetem a arquitetura clássica.

“[...] Caracterizada pela
clareza construtiva e simplicidade de formas. Apenas alguns elementos
construtivos como cornijas e platibandas eram explorados como recursos
formais. Os corpos de entrada compunham-se de escadarias, colunatas e
frontões de pedra aparente, formando conjuntos, cujas linhas severas
evidenciavam um rigoroso atendimento às normas vitruvianas.”[1]

[1] UFMS – Trabalho de Arquitetura Neoclássica – 2007, Pag. 16


      Figura 1 No interior pode-se ver pequenos detalhes no teto com

elementos de arquitetura clássica (Folhas e flores gregas).



Figura 2 Foto do salão nobre do colégio Paes de Carvalho.


Outro exemplo de edificação fundada nessa época era o antigo prédio do colégio “Lauro Sodré”, hoje Palácio da Justiça do Estado do Pará, onde nele estão contidas praticamente as mesmas características do estilo neoclássico existentes no colégio Paes de Carvalho, porém um pouco mais refinado em seus detalhes decorativos. 


III – CONSIDERAÇÕES FINAIS:
           
A Belle Epoque nos deixou inúmeras riquezas as quais foram vivenciadas por uma sociedade burguesa que até hoje nos relembra aquele tempo de grande luxo nas cidades onde foi desenvolvido o embelezamento com finalidade de educar e embelezar os centros urbanos, como Belém.
A intenção era fazer de Belém uma cidade moderna e atraente, a exemplo de grandes cidades brasileiras e europeias, como o Rio de Janeiro, no Brasil e Paris na França.
E é assim que a instituição de ensino Paes de Carvalho assumiu uma postura conservadora de educar nos moldes da sociedade européia, deixando um extraordinário legado em nossa sociedade contemporânea.
Esse colégio passou por várias reformas e mudanças como a que foi feita em 1992, com a inauguração do prédio anexo a escola, onde funcionava uma unidade pública de saúde e agora funciona o convênio. Outra raridade escondida no prédio é um imponente salão nobre, onde hoje estão guardados parte da história da instituição.
Antigamente, para ingressar no ”Paes de Carvalho” era necessário ser aprovado em um teste de seleção, o chamado "vestibulinho", o qual teve sua última realização no ano de 1999, para alunos ingressantes no ano de 2000. Hoje a seleção é feita pela inscrição no site da SEDUC.
Atualmente, o "Paes de Carvalho" é um colégio de ensino regular, funcionando em três turnos, das 7h30 às 22h, onde estudam 1.846 alunos, distribuídos em 50 turmas: 24 no turno da manhã, 20 no turno da tarde e 5 no turno da noite.
Atualmente, o Colégio Paes de Carvalho é hoje a terceira instituição pública de ensino preservada em seus moldes antigos, mais antiga em funcionamento do Brasil e a mais tradicional do Estado do Pará. Com 168 anos de história, formou os principais nomes da história da capital e do estado do Pará como: Jade Barbalho, José Arthur Tourinho e Hamilton Guedes que iriam para o mesmo rumo político. Também de Frederico Coelho de Souza, Milton Nobre, Haroldo Silva, Ronaldo Vale, Francisco Monteiro e muitos mais.


REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

COSTA, Tadeu Luiz - Apresentação de Slides sobre a Belle Époque - 2013
Manual de Orientação do Aluno – Colégio Paes de Carvalho
SOCORRO, Maria do Perpétuo - Raízes históricas do ensino secundário público na província do grão Pará: O liceu paraense. 1840-1889
PAIVA, Renata, história do Pará, 4º ou 5º ano, São pulo 2011.

STRICKLAND, Carol, Arte comentada: da Pré- história ao pós moderno, Rio de janeiro: Ediouro, 2004.

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